Fome, opulência<br> e imperialismo nos países pobres

Jorge Messias

«Os mé­todos de ins­ta­lação do caos eco­nó­mico e po­lí­tico no mundo não acon­tecem por acaso. A forma como têm sido me­ti­cu­lo­sa­mente pre­me­di­tados por grupos fi­nan­ceiros in­ter­na­ci­o­nais tem sido im­posta por nú­cleos apá­tridas que se es­condem por de­trás das portas blin­dadas dos bancos se­di­ados na Eu­ropa e nos EUA. E os pro­ta­go­nistas deste es­quema, pro­jec­tado há sé­culos, não são os países ou os seus go­vernos. São fa­mí­lias de ban­queiros in­ter­na­ci­o­nais. São clãs. São pes­soas. Esta é a Nova Ordem Mun­dial...» (Gi­bran Hanna Che­quer, “Nova Ordem Mun­dial”, 2009).
 

«Em 1965, du­rante o Con­cílio Va­ti­cano II, Paulo VI re­cebeu o Con­selho Epis­copal La­tino-Ame­ri­cano e, na sua alo­cução, prestou par­ti­cular atenção ao ateísmo mar­xista. Apre­sentou-o como uma força pe­ri­gosa, lar­ga­mente di­fun­dida e ex­tre­ma­mente no­civa, que se in­filtra na vida eco­nó­mica e so­cial da Amé­rica la­tina e prega a re­vo­lução vi­o­lenta...» (Ralph Wilgen, “O Reno de­sagua no Tibre”, 1974).
 

«O pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário é ir­re­gular, feito de avanços e de re­cuos, de pe­ríodos de as­censo e de re­fluxo. A nossa pró­pria ex­pe­ri­ência his­tó­rica veio con­firmar, tal como re­feriu Le­nine, que a re­vo­lução so­cial não é uma ba­talha única mas uma época que com­pre­ende toda uma série de ba­ta­lhas em torno de cada uma das trans­for­ma­ções eco­nó­micas e de­mo­crá­ticas que só ter­mi­narão com a ex­pro­pri­ação da bur­guesia» (Le­nine ci­tado por Carlos Aboim In­glês, “O Mi­li­tante”, Julho/​Agosto 2000).

O agro­ne­gócio tenta en­golir de uma só gar­fada o pro­duto dos bens pro­du­zidos pelo tra­balho cujo des­tino de­veria ser o de­sen­vol­vi­mento e os ser­viços so­ciais de todo o povo. É neste sen­tido que se im­plantam agora, na Eu­ropa, os ali­cerces de es­tru­turas bá­sicas já am­pla­mente di­fun­didas na Amé­rica La­tina (da Ar­gen­tina ao Brasil e às na­ções do Mer­cosul) ou nas novas po­tên­cias emer­gentes da Tur­quia, Hun­gria, Ucrânia, Is­rael, Emi­ratos Árabes, etc. Tal como também pro­gride no cin­turão dos países po­bres que en­volvem os es­tados cen­trais do im­pe­ri­a­lismo eu­ropeu. Os seus ob­jec­tivos estão com­pre­en­didos nas di­rec­tivas da Nova Ordem Mun­dial e vão sendo al­can­çados através das po­lí­ticas de gestão da crise fi­nan­ceira global.

O agro­ne­gócio conduz à ruína das eco­no­mias tra­di­ci­o­nais e fa­mi­li­ares, su­prime ca­madas so­ciais ul­tra­pas­sadas; subs­titui as es­tru­turas po­lí­ticas es­ta­tais de­mo­crá­ticas por ti­ra­nias mo­no­po­listas ilu­mi­nadas e ace­lera o pro­cesso de ex­ter­mínio das po­pu­la­ções po­bres ou seja, dos fa­mé­licos da Terra que são re­vo­lu­ci­o­ná­rios po­ten­ciais, etc...Os mo­no­po­listas contam poder, desta forma, in­vi­a­bi­lizar o de­sen­vol­vi­mento das lutas de classes.

Todo este pro­cesso oculto evolui por entre es­pessas ma­lhas de con­tra­di­ções de in­te­resses. Amigos e ini­migos, ho­mens de fé e la­drões, po­etas e sa­que­a­dores, cruzam-se nos cor­re­dores do ca­pi­ta­lismo im­pe­ri­a­lista dos mo­no­pó­lios. São os ilu­mi­nados. Ins­talam a cha­mada Era do Co­nhe­ci­mento. Apro­xima-os a gula do lucro e do poder do saque. Afasta-os a luta pelo poder pes­soal.

Con­tra­di­ções que se saldam a favor dos mo­no­pó­lios e da con­cen­tração do ca­pital. A fome alastra mas as novas for­tunas também. En­tre­tanto, ban­queiros e monges, todos comem dieta única. Sentam-se à mesa e sa­bo­reiam as de­lí­cias da mesma re­quin­tada ementa ali­mentar. Afinal, o im­por­tante é en­gordar!

As no­tí­cias sobre o alas­tra­mento do agro­ne­gócio na Eu­ropa vão sur­gindo, um pouco por toda a parte. Cerca de 50% das terras agrí­colas da União Eu­ro­peia já são pro­pri­e­dade dos grandes es­pe­cu­la­dores mun­diais – cor­po­ra­ções chi­nesas, super-for­tunas pe­tro­lí­feras, fundos gi­gan­tescos de ne­gó­cios de alto risco, fun­da­ções mul­ti­mi­li­o­ná­rias, etc. Pa­ra­le­la­mente, a pro­dução de ali­mentos mo­di­fi­cados (trans­gé­nicos) não cessa de crescer. O mer­cado dos trans­gé­nicos é de­tido por um pu­nhado de trans­na­ci­o­nais far­ma­cêu­ticas li­de­radas pelo grupo norte-ame­ri­cano Mon­santo. Os lu­cros bru­tais ob­tidos à custa da saúde pú­blica só em parte são rein­ves­tidos no agro­ne­gócio. A imensa massa fi­nan­ceira que a ope­ração la­ti­fun­diária exige vem dos or­ça­mentos na­ci­o­nais dos es­tados co­mu­ni­tá­rios, da banca mun­dial, das fun­da­ções fi­lan­tró­picas da ili­mi­tada es­pe­cu­lação ca­pi­ta­lista sub­ter­rânea que com­pre­ende la­va­gens de di­nheiro, tran­sac­ções fu­turas, swaps, eco­no­mias pa­ra­lelas, ma­ni­pu­lação das ex­por­ta­ções e dos mer­cados do tra­balho, etc.

Que o povo ca­tó­lico por­tu­guês, so­bre­tudo os tra­ba­lha­dores e as fa­mí­lias ca­tó­licos, de­te­nham em tudo isto o seu olhar… Toda a hu­ma­ni­dade com os seus va­lores corre um alto risco!

 



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